TEA na Cultura Pop
🎬 TEA na Cultura Pop
📌 Você vai ler nesta página:
- Toda história tem um começo
- Rain Man e além
- Parenthood
- Community (seis temporadas e um filme!)
- O problema com The Big Bang Theory
Toda história tem um começo
Minha relação com o autismo e a cultura pop começou de forma inusitada.
Em um café, uma colega apontou para meu chaveiro e perguntou: “Você é autista?”
Até então, eu nunca havia compartilhado meu diagnóstico publicamente. A pergunta me pegou de surpresa.
Fui para casa refletindo sobre como as pessoas reagem quando alguém retira a “máscara de neurotípico”. Ao procurar histórias de outros autistas, me deparei com uma frase impactante:
“O autismo está na moda agora.”
Essa afirmação me fez pensar. Como uma condição neurológica poderia estar “na moda”? Será que o crescente número de personagens autistas na cultura pop estava transformando o TEA em uma tendência?
Sei que a representação da ciência e das minorias na cultura pop molda a percepção do público. Isso afeta diretamente como os neurotípicos veem os autistas.
E, o mais preocupante: afeta como os autistas se veem.
Rain Man e além
O filme Rain Man (1988) foi o primeiro grande contato do público com o conceito de autismo.
Apesar das críticas, foi um passo importante para a conscientização sobre o TEA. Antes dele, quase ninguém sabia o que era autismo. O filme ajudou a humanizar a condição, mas também contribuiu para a criação de um estereótipo: o autista como gênio excêntrico.
A atuação de Dustin Hoffman foi excepcional, mas a forma como seu personagem foi retratado ainda reflete uma visão ultrapassada do autismo. No filme, o protagonista é tratado como um obstáculo, e não como um ser humano com sua própria história.
Muitas crianças autistas da época enfrentaram o medo da internação compulsória. Eu mesmo cresci com esse temor. Aprendi a mascarar minha condição para evitar chamar atenção.
Hoje, o autismo não é mais um segredo. Mas a forma como a mídia nos representa ainda precisa evoluir muito.
Parenthood
A série Parenthood apresenta Max Braverman, um adolescente autista que luta para se conectar com os colegas.
O mais interessante sobre Parenthood é que seu criador, Jason Katims, escreveu a série baseado em sua própria experiência como pai de uma criança autista. A abordagem é honesta e cuidadosa.
Max é um personagem complexo, mas sua narrativa ainda é um pouco limitada. Sua identidade gira quase inteiramente em torno do autismo. Isso reflete uma perspectiva médica, em vez de um olhar mais experiencial.
Porém, a série acerta ao mostrar as dificuldades das famílias neurodivergentes. Isso me fez lembrar das dificuldades que meus próprios pais enfrentaram ao lidar com minhas diferenças.
A representação do autismo ainda é um desafio na cultura pop, mas séries como Parenthood mostram que estamos progredindo.
Community (seis temporadas e um filme!)
O personagem Abed Nadir, da série Community, é um dos melhores exemplos de representação autista na cultura pop.
Ao contrário de outros personagens autistas, Abed não é reduzido a um estereótipo. Ele é um cara inteligente, perspicaz e autoconsciente. Sua jornada não é sobre “superar o autismo”, mas sim navegar pelo mundo do seu jeito.
Em um episódio memorável, seus amigos tentam forçá-lo a “ser normal” para conquistar uma garota. Eles acreditam que ele precisa ser “consertado”. Mas, no fim, Abed revela que sempre soube o que estava fazendo. Ele apenas prefere que as pessoas venham até ele.
Esse tipo de narrativa contrasta com séries como The Big Bang Theory, onde Sheldon Cooper é constantemente ridicularizado.
Enquanto Community trata seu personagem com empatia, TBBT reforça a ideia de que autistas são irritantes e socialmente incompetentes. Essa diferença é crucial para entender como a cultura pop pode ajudar ou prejudicar a visão sobre o autismo.
O problema com The Big Bang Theory
Muitos colegas da faculdade se identificavam com Sheldon Cooper, de TBBT. Mas eu sempre me incomodei com isso.
O problema não é que Sheldon seja autista. O problema é que a série usa suas características para ridicularizá-lo. Seus amigos não o suportam, e o público é incentivado a rir dele, não com ele.
Se você assistir TBBT sem som, apenas lendo as legendas, verá como a série é cruel com seus personagens neurodivergentes.
A cultura pop precisa aprender a rir com os autistas, e não dos autistas.
A relação entre autismo e cultura pop é complexa. Alguns personagens nos humanizam, enquanto outros reforçam estereótipos prejudiciais.
O caminho para uma representação mais justa do autismo na mídia passa por:
- Criar personagens diversos e realistas
- Consultar autistas reais ao escrever histórias
- Parar de usar o autismo como motivo de piada
A cultura pop molda a percepção do público sobre o autismo. Se queremos um mundo mais inclusivo, precisamos começar por contar histórias autênticas e respeitosas.
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